E o que ficou? A esperança.
E se de repente, a tua casa ficasse em pó !
E se de repente, o som do vento calmo, virasse tiros e gritos ?
E se de repente, quem amas, te largasse a mão para sempre ? Mesmo ali, diante dos teus olhos !
E se de repente, o teu país, virasse nada mais que um campo de batalha ?
E se de repente, o teu estômago cheio, doesse de fome ?
Se
de repente, as lágrimas se tornassem constantes na tua cara ? Assim
como os gritos, o pânico, o terror, o medo, a dor por todo o corpo e por
todo o coração !
Se de repente o amor virasse ódio, e nada mais existisse !
Enquanto todos estes "e se", milhares de pessoas vivem esta realidade !
Ao
longo destes quatro anos e meio, 200 mil Sírios perderam a vida num
conflito, entre tropas leais ao presidente Bashar Al-Assad e as forças
de oposição.
Março de 2011, cidade de Deraa. Os protestos deram
origem à prisão e tortura de um dos jovens que pintaram slogans
revolucionários. O que levou a mais manifestações, pedindo a saída de
Assad. Desde então, devido ao orgulho de mãos dadas com o ódio, a
guerra persistiu, milhares de pessoas morreram e outras milhares ficaram
sem nada, tudo porque nenhum dos lados, se recusou a cessar fogo !
O
país entrou em guerra civil, com brigadas rebeldes, a lutar contra
tropas governamentais, pelo controle de cidades povoadas e zonas rurais.
Em 2012, Damasco e Aleppo, eram também agora zonas de guerra. Em
2013, a ONU confirmou que 90 mil pessoas haviam morrido nos conflitos,
apenas um ano depois, esse número já teria aumentado para 191 mil, e
atualmente chegou a 250 mil.
Esta batalha já era mais do que ser
contra ou a favor de Assad, tinha adquirido um tom sectário, onde a
maioria Sunita enfrentava a ala Xiita, que apoiava o presidente, incluía
a intervenção de países vizinhos e poderes globais. A isto se juntava o
crescimento de grupos Jihadistas, incluindo o "EL", que deu uma outra
dimensão ao confronto.
E num dos maiores Êxodos da história recente,
mais de 4,5 milhões de pessoas fugiram da Síria desde o início do
conflito, a maioria mulheres e crianças. O êxodo acelerou num abrir e
fechar de olhos depois do início de 2013, acredita-se que outras 7,6
milhões de pessoas tenham sido obrigadas a deixar as suas casas dentro
do país.
O "EL" assumia agora o controlo das grandes zonas no Norte e
Leste da Síria. Estavam envolvidos numa "guerra entre guerras", na
luta contra rebeldes, com Jihadistas da AL-Queda afiliados à Frente
Nursa, que rejeitavam as tácticas do "EL", contra os Curdos e contra as
forças do governo.
O que começou como um levante da primavera Árabe
contra um líder ditatorial, foi-se transformando numa guerra brutal pelo
poder, sem nenhuma das partes ter capacidade de se impor de forma
definitiva, a batalha entre elas pela supremacia perdurou.
Ao fim de
2016, após meses de pesadas ofensivas, o regime de Assad, com apoio da
Rússia, afirmou ter tomado a região Leste de Alepo, expulsando os
Rebeldes e os Jihadistas dos seus últimos redutos. Sem opções, a
oposição bateu retirada. O governo Sírio e Russo declaram a cidade
oficialmente livre em 13 de Dezembro de 2016, encerrando a batalha onde
mais de 100 mil pessoas foram mortas e outras mil ficaram sem nada.
Massacre,
atentados, morte, tortura, hostilidade, desumanismo, guerra! São as
palavras que sobreviveram ao longo destes anos de catástrofe. Mas, ainda
há mais uma palavra, um sentimento. A esperança !
A esperança de
todos aqueles, que ao monte, em barcos insufláveis, tentavam permanecer
vivos, para alcançar uma nova terra onde habitar.
A esperança de quem perdeu alguém nos braços, mas mesmo assim, se recusa a dar as mãos ao ódio.
A esperança daqueles que enviam as balas que tiraram a vida a quem amavam para Fátima, no pranto de que isso lhes traga paz.
A
esperança, no olhar de crianças, que não sabem porque lhes foi tirado
tudo, que viveram a guerra como nós nos erguemos todos os dias para ir
para o trabalho.
A esperança! Que entre milhares de mortes inocentes,
sobreviveu! Para nos lembrar que, só quando o poder do amor derrotar o
amor pelo poder, se conhecerá a paz!
Já dizia António Oliveira
Salazar: "Autoridade e Liberdade são dois conceitos incompatíveis...
Onde existe uma não pode existir a outra."
E agora digo eu. A cordialidade, compreensão e paz, ocupam assim tanto espaço, que não cabem em lado nenhum?
Cabem
em cada um de nós, e se todos formos portadores destas três essenciais,
o mundo será mais habitável, e faremos jus a todos os que morreram por
nada!
Faremos jus à raça humana, que se distingue dos animais pela racionalidade, mas por vezes, nós é que os envergonhamos.