Ficas ?
Sei que não sabes nada, mas fica.
Que sou complicada, carrancuda, mas fica.
Poucas vezes sorrio, construí uma muralha à minha volta, mas fica.
Não sei lidar com os afectos, tenho medo de os deixar entrar, mas fica.
O meu ar assusta, mas, juro que o meu coração é mais atraente , então fica.
Fica, não vás embora, não deixes que eu te esfrie !
Sei que andei por aí a descontar as minhas dores, a achar que não precisava de mais nada, a não ser de estar só.
Caminhei descalça pelas brasas, arranquei todas as lâminas espetadas no meu peito, lidei com a dor e o escuro sozinha.
Até que me habituei a isso e me assemelhei.
Não tenho culpa de já não saber usar o coração!
Por isso ensina-me !
Não deixes que eu me esqueça !
Não deixes que eu me esqueça de como é ter a alma quente, ou do poder de um abraço !
Ensina-me a não saber ser mais fria!
Lembra-me de como é receber e dar carinho, de como é ser a dois, em vez de ser sozinha !
Dá-me a mão e não me largues, agarra-me com força, para que eu não sinta dúvidas !
Arranca o meu sorriso à muito levado pela dor, e não deixes que ele fuja de novo.
Prova que eu estava errada, que é possível querer de novo.
Leva-me contigo, em tudo de ti.
Lembra-te, lembra-me a mim, que eu sou mais do que todas estas ruínas.
Não entres se não queres ficar. Cá dentro já há muita coisa destruída !
Vai embora, esquece tudo que disse, esquece-me a mim.
Ou entra ! Fecha-te aqui comigo! Explora todos os recantos destruídos, e ensina-me a construir tudo de novo !
Porque às vezes, quando estou por aqui, imagino-te a concertar, tudo que deixei o tempo deteriorar !
Imagino que podes devolver tudo que me foi levado. Que a tua forma
de sorrir, me pode fazer esquecer todas as minhas sombras do passado. Ou o teu olhar pode conseguir distrair-me de tudo que bloquei-a o meu.
E essa tua forma irritantemente doce, capaz de desligar todo o meu mau feitio. Capaz de me levar a sorrir...
Que mais conseguiremos fazer os dois aqui ? Que mais conseguirás que eu faça ?
Sou aquele pedaço frio, feito de tantos desgostos da vida. Sou aquele pedaço gelado e negro, que não sei porquê... tu viste.
E agora eu fico para aqui, no meio de todos estes estilhaços, tentando não ver nada do que me queres mostrar, mas na verdade...
Eu quero ver tudo.