Deixo-me cair

03-06-2017

Não é orgulho, é medo.

Não é raiva, é protecção. 

            Não é gostar de velhos hábitos, é o receio de avançar para nada.

         Estou tão cansada de pisar em falso, que preciso que me mostrem um piso seguro. 

Preciso que me agarrem e me digam para ir, que estou segura. Preciso que me façam sentir que realmente estou. 

Não quero mais uma história mal contada, não quero mais mentiras nem mais mágoas. Não quero sofrer ou chorar mais, por perder o meu tempo em algo que não é para ser. 

Quero que se importem. Que chamem o meu nome. Que me recordem de manhã e à noite. Um sinal de que faço falta, que sou precisa e sou lembrada com desejo. 

Quero mais maravilhas e menos armadilhas. 

Mais amor, mais toques, mais beijos, quero mais querer. 

Que me diga sim ou não, que me segure ou me largue. Que me beije ou me dê as costas. Que me puxe com força pela cintura e me diga para ficar, ou que me afaste com silêncio apenas. 

Quero que venha para me segurar na face, me obrigue a olhar nos olhos e me leia. 

Cada linha é complicada eu sei, há imensos gatafunhos. Mas eu só vou se realmente me quiseres ler. Porque não vou rasurar mais linhas ou escrever em vão. 

Não quero ficar mais amarga, nem coleccionar mais cicatrizes nesta alma massacrada.

É por isso que fico aqui no meu canto à espera, que desisto após o silêncio.

Estou acostumada a pensar de modo negativo, e por isso é que acho que a minha jornada é sozinha. Que o amor para mim, não é nada mais do que aquilo que já vivi. 

Dei tanto a quem não devia, que agora temo dar o mínimo a alguém. E por isso permaneço só. Deixo as pessoas fugirem de mim, sem me aperceber que nem lhes dei a chance de ficar. 

Deixo que pensem que não quero que fiquem, sem ver que fui eu que mostrei que não queria. 

Deixo-me cair a mim, todos os dias, mais um pouco neste poço. 

Não preciso de uma corda à qual me agarrar, preciso que alguém desça aqui, me abrace e fique comigo até eu ser capaz de sair, que me dê a mão e me tire o medo.

Que me faça sorrir alto o suficiente para que o meu coração ouça. 

Quero um abraço daqueles demorados, que discursa em silêncio. Que me deixe sem argumento e repleta de alento. 

Mas por enquanto fico aqui neste meu poço escuro. Onde me acomodei com as minhas mágoas.

Já não espero ninguém, já não olho para cima, no pranto de ver alguém. Nem sei como fazer alguém espreitar, com esta minha mania de que tudo me vai fazer mal. E no fim... O único mal sou eu. 

Que já não sei viver, fora do que me fizeram ser. 

O único mal foi ter acreditado, que já não posso acreditar mais.

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