Ainda quero!
Já não sou tão meiga, nem tão positiva.
Já não procuro um contra-argumento em brigas sem sentido, nem me preocupo tanto com o que acham a partir daí.
Já não grito para me fazer ouvir, nem choro por não ser ouvida.
Já não me apego tanto, mas também já não consigo ficar só.
Já não procuro desmentir uma mentira, simplesmente a ouço e guardo dentro de mim.
Já não sou muito do que fui outrora, porque os azares da vida roubaram muito de mim.
E quando dei por mim, eu já estava mais perto do gelo, do que da fogueira.
O
gelo que naquele momento me pareceu tão mais confortável, tão mais
acolhedor e tão sincero. E foi lá que decidi ficar, arrefecendo em mim,
muito mais do que eu desejaria.
Talvez eu tenha perdido muito do que eu era, muito amor, muita doçura, muita compaixão.
Mas
eu ainda observo as estrelas calmamente, ainda sei alguns dos seus
nomes. Ainda choro com Bridget Jones e ainda quero sentar a minha alma
fria perto da fogueira. E acreditar que todo o gelo irá derreter, e que
cada gota me vai trazer tudo aquilo que me foi retirado.
Acreditar
que Amor, não só tira, mas também dá. Acreditar que eu ainda tenho
alguma parte em mim que não esfriou, acreditar que alguém seja capaz de
ver isso.
Porque eu ainda quero! Eu ainda quero sentir o
calor, ainda me quero importar, ainda quero um abraço e carinho. Eu
ainda quero comprovar que há amores que nos salvam, e que mesmo depois
de tanto nos tirar, ele também nos pode dar, não só tudo que nos roubou,
como também tudo o que demos em vão.
E hoje eu sei, que nem tudo
dá errado, que não estamos destinados a sofrer sempre, que ainda há
pessoas que nos amam e merecem ser amadas. Sei que ainda há muito amor
espalhado em mim, e que aos poucos eu vou aprender a dá-lo, sem medo de
que seja em vão.
Porque se não sentarmos a alma ao pé da fogueira, e não sentirmos o seu calor, já mais saberemos qual a sensação do aconchego.
Assim
é o amor. Assim é a vida, temos de colocar todo o medo de lado, todas
as dores e mágoas. Voltar a arriscar, voltar a dar o melhor de nós, para
que possamos também obter o melhor dos outros.
Sei que por vezes
existem cicatrizes que o tempo não retira, mas também sei que pode
existir alguém disposto a amar-nos com elas. Só temos de aceitar ser
amados, aceitar que chegou a nossa hora de ser feliz, a hora de dar
certo!
Eu aprendi a gostar de todas as
minhas cicatrizes, aprendi que a vida não é sempre amarga, e que também
há uma hora de dar certo para mim e eu aceitei!
Porque eu ainda quero amar, e ser amada.
Quero acordar de manhã a sorrir, e agradecer a mim, por ter arriscado.
Agradecer a ele, por ter arriscado comigo.
Por me mostrar que amar nem sempre dói, por me amar, por fazer de mim uma mulher feliz, menos amarga e repleta de amor.
Provando assim, que não é só um mito. Há mesmo um capítulo que termina com "E viveram felizes para sempre".