A casa do Diabo
Cada passo que dou, é como se o chão abrisse ! As chamas acompanham-me, ao meu redor !
O meu olhar é como lâminas, de que todos se desviam !
Cheia de pequenos demónios ! Temida por quem vem e por quem não ficou !
Sou feita dos meus estilhaços ! Tenho o olhar vazio de medo, pois ninguém pode partir o que já se partiu !
É na confusão que me arrumo ! E no escuro espalho toda a minha frieza !
Quem sou eu ? Sou o Diabo ! Do qual todos se desviam, todos temem, todos evitam!
Nada me agrada, a todos desprezo, sou só eu, não tenho mais espaço, mais tempo ou mais de mim para alguém !
Sou o que a vida me fez, e o que não sei mais ser !
Caminho entre as chamas, olho para todas estas sombras e não vejo nada ! Os demónios vêm junto comigo, sem se calarem, enchem a minha cabeça !
Até que alguém me olha, como se me afronta-se, ou tenta-se ver, além das chamas que me rodeiam !
Quem ousaria encarar o Diabo ? Tentar decifra-lo ? Quem se atreveria a me dar que pensar? Eu, que me faço acompanhar do fogo e de medo!
Caminhou na minha direcção com um sorriso mais maquiavélico que o meu, como se nada lhe assusta-se em mim.
E foi isso que substituiu a minha raiva por curiosidade. O que veriam de bom no diabo, acompanhado de chamas e demónios ensurdecedores ?
Tentei saber quem era a cada passo dado, quem era que me fez esfriar, sem mover nada de mim, que me causou medo ?
Tentei entender porque alguém viria na minha direcção, porquê que eu não lancei as minhas lâminas ou ouvi os meus demónios ?
O medo aumentava, assim como a curiosidade de ver quem me desafiava. Até que chegou diante dos meus olhos...
Era o inferno!
Que me fez sentir em casa, abraçou-me com todas as minhas chamas, e pediu aos meus demónios que falassem mais baixo !
Apaziguou a minha mente, recolheu todas as minhas lâminas e quis cada estilhaço meu !
Era o meu inferno, que me deixava sempre em paz. Que me via além de
tudo que me rodeava, que me sorriu sem medo do meu olhar frio.
Era o meu inferno que não me deixava ser estranha sozinha e me queria assim.
Andou comigo pelo meu chão aberto, de mãos dadas entre as minhas chamas, sem se desviar de mim.
Arrumou toda a minha confusão, e a mim, no escuro, que nunca mais soube o que era o frio !
Meu inferno, que estranhamente me agradou. E desde aí ganhei espaço e tempo para ele !
E ele ganhou de mim, tanto quanto quis, tanto quanto mereceu.
Eu, era só o Diabo, deambulando por aí. Ele, era o inferno, perdido.
Ambos adormecidos pela ausência e acordados por o nosso encontro.