A casa do Diabo

18-05-2017

 Cada passo que dou, é como se o chão abrisse ! As chamas acompanham-me, ao meu redor !

 O meu olhar é como lâminas, de que todos se desviam !  Cheia de pequenos demónios ! Temida por quem vem e por quem não ficou !

 Sou feita dos meus estilhaços ! Tenho o olhar vazio de medo, pois ninguém pode partir o que já se partiu !

 É na confusão que me arrumo ! E no escuro espalho toda a minha frieza !

 Quem sou eu ? Sou o Diabo ! Do qual todos se desviam, todos temem, todos evitam!

 Nada me agrada, a todos desprezo, sou só eu, não tenho mais espaço, mais tempo ou mais de mim para alguém !

 Sou o que a vida me fez, e o que não sei mais ser !

 Caminho entre as chamas, olho para todas estas sombras e não vejo nada ! Os demónios vêm junto comigo, sem se calarem, enchem a minha cabeça !

 Até que alguém me olha, como se me afronta-se, ou tenta-se ver, além das chamas que me rodeiam !

 Quem ousaria encarar o Diabo ? Tentar decifra-lo ? Quem se atreveria a me dar que pensar? Eu, que me faço acompanhar do fogo e de medo!

 Caminhou na minha direcção com um sorriso mais maquiavélico que o meu, como se nada lhe assusta-se em mim. E foi isso que substituiu a minha raiva por curiosidade. O que veriam de bom no diabo, acompanhado de chamas e demónios ensurdecedores ?

 Tentei saber quem era a cada passo dado, quem era que me fez esfriar, sem mover nada de mim, que me causou medo ? Tentei entender porque alguém viria na minha direcção, porquê que eu não lancei as minhas lâminas ou ouvi os meus demónios ?

 O medo aumentava, assim como a curiosidade de ver quem me desafiava. Até que chegou diante dos meus olhos...

 Era o inferno!

 Que me fez sentir em casa, abraçou-me com todas as minhas chamas, e pediu aos meus demónios que falassem mais baixo !

 Apaziguou a minha mente, recolheu todas as minhas lâminas e quis cada estilhaço meu !

 Era o meu inferno, que me deixava sempre em paz. Que me via além de tudo que me rodeava, que me sorriu sem medo do meu olhar frio.

 Era o meu inferno que não me deixava ser estranha sozinha e me queria assim.

 Andou comigo pelo meu chão aberto, de mãos dadas entre as minhas chamas, sem se desviar de mim.

 Arrumou toda a minha confusão, e a mim, no escuro, que nunca mais soube o que era o frio !

 Meu inferno, que estranhamente me agradou. E desde aí ganhei espaço e tempo para ele ! E ele ganhou de mim, tanto quanto quis, tanto quanto mereceu.

 Eu, era só o Diabo, deambulando por aí. Ele, era o inferno, perdido.

 Ambos adormecidos pela ausência e acordados por o nosso encontro.

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